
Desvendando a Intolerância Religiosa no Carnaval 2025: O Que Está em Jogo?
O Carnaval na Marquês de Sapucaí é um momento de grande celebração que atrai a atenção não apenas do Rio de Janeiro, mas de todo o Brasil. Todos aguardam com entusiasmo os desfiles das escolas de samba do grupo especial, que se apresentam com sambas-enredos vibrantes, histórias emocionantes, alegorias deslumbrantes e muito samba no pé.
Neste ano, os desfiles ganharam uma atenção especial, pois muitas escolas abordaram as Religiões de Matriz Africana. Isso gerou um intenso debate nas redes sociais. A Escola de Samba Unidos do Viradouro, por exemplo, trouxe o samba-enredo “Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos”, que celebra a história da entidade afro-indígena Malunguinho. Já a Unidos da Tijuca encantou o público com “Logun-Edé: Santo Menino Que Velho Respeita”, que narra a trajetória do orixá filho de Oxum e Oxóssi.
A Beija-Flor de Nilópolis, que conquistou o título de campeã, homenageou o baluarte Laíla com o enredo “Laíla de todos os santos, Laíla de todos os Sambas”. O samba destacou a religiosidade e a fé em Xangô, além de marcar a despedida do cantor Neguinho da Beija-Flor. A Salgueiro entrou na avenida com o tema da proteção espiritual, enquanto a Unidos de Vila Isabel surpreendeu ao apresentar o Diabo em sua comissão de frente, no enredo “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”.
Essas representações são importantes porque promovem uma reflexão sobre a diversidade religiosa no Brasil. A terminologia pejorativa como “macumba” é frequentemente utilizada para atacar as práticas dessas comunidades, mas é essencial entender que, na verdade, essas expressões são parte de uma rica ancestralidade cultural que deve ser respeitada.
As Religiões de Matriz Africana, como o Candomblé e a Umbanda, surgiram a partir da resistência de povos africanos escravizados, que, mesmo sob repressão, conseguiram manter suas tradições e rituais, muitas vezes incorporando elementos do catolicismo por meio do sincretismo.
Apesar dos avanços legais, como a liberdade religiosa garantida na Constituição de 1988 e o reconhecimento das manifestações afro-brasileiras, a intolerância religiosa ainda persiste de forma alarmante. Vemos a destruição de terreiros e a hostilidade em relação aos praticantes dessas religiões. Essa violência não é apenas física; é uma consequência de um racismo profundo e historicamente enraizado.
A legislação brasileira tenta combater essas práticas, mas ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que todos possam expressar sua fé sem medo. A construção de um diálogo inter-religioso e a educação sobre as diversidades culturais e religiosas são essenciais para superar esses desafios.
O Brasil, conhecido por sua diversidade étnica e cultural, deve ser um exemplo de respeito e inclusão. Cuidar das tradições de todos os grupos é fundamental para uma sociedade mais justa e harmônica. É preciso reconhecer que cada manifestação de fé é uma parte vital do tecido cultural que nos une.